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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Orar com os pés é mesmo a sério



Costumo usar a expressar «orar com os pés» para me referir àqueles que encaminham durante dias a sua vida para um Santuário. É o caso dos peregrinos de Santiago. Hoje chegou o último da temporada ao Albergue de São João da Cruz dos Caminhos. Chama-se Vítor e é da Póvoa de Varzim. Vai pela segunda vez a Santiago, primeira pelo Caminho da Costa. É realizador de cinema: para já abalançou-se nos documentários. Conhece os cantos do AXN e do Canal História entre outros.
A crise atacou-o também a ele ou serviu de desculpa aos que encomendam trabalhos. Por isso pousou as máquinas e vai dedicar-se à oração. É cristão e gosta de seguir os ensinamentos do Mestre Osho, indiano, qua ajuda a rezar com o corpo. É o que ele faz. Por estes dias com mais intensidade. Nos dias que seguem, venha o que vier, continuará em profunda oração e meditação. Mesmo que dolorosas.
Reza, por nós, Vítor, sejam quais sejam os teus caminhos. Mesmo que te percas, isso é caminho. Digo, isso é oração. Amen.

Por todos os caminhos do mundo!


A minha poesia é assim como uma vida que vagueia
pelo mundo,

por todos os caminhos do mundo,
desencontrados como os ponteiros de um relógio velho,
que ora tem um mar de espuma, calmo, como o luar
num jardim nocturno,

ora um deserto que o simum veio modificar,
ora a miragem de se estar perto do oásis,
ora os pés cansados, sem forças para além.

Que ninguém me peça esse andar certo de quem sabe
o rumo e a hora de o atingir,
a tranquilidade de quem tem na mão o profetizado
de que a tempestade não lhe abalará o palácio,
a doçura de quem nada tem a regatear,
o clamor dos que nasceram com o sangue a crepitar.

Na minha vida nem sempre a bússola se atrai ao mesmo
norte.
Que ninguém me peça nada. Nada.
Deixai-me com o meu dia que nem sempre é dia,
com a minha noite que nem sempre é noite
como a alma quer.

Não sei caminhos de cor.

[Fernando Namora, in 'Mar de Sargaços' ]

O´Luis do Freixo



Um homem chega à reforma e pode reformar-se de tudo, até de viver – Bem, e daí, hoje talvez não… Recomecemos:
Um homem chega à reforma e que vai fazer? Depende. Alguns perdem-se, outros ganham nova vida, outros ainda lançam-se a projectos aos quais jamais antes puderam dar alma. Foi o caso do galego O’Luis do Freixo. Há onze anos que se dedica ao Caminho (Português) da Costa, por acreditar que ele poderia voltar a ter alma. Todos os caminhos tiveram alguém quem primeiro os rasgou e passou, neste caso, que o pensou. Conta a história que O’Luis pensou que o Caminho da Costa poderia ser reanimado. Pintou a primeira seta e pouco a pouco foi animando e verificando que outras setas apareciam para ajudar os peregrinos; mais: acreditou que é possível ajudar um peregrino de cadeira de rodas a percorrê-lo!
O’Luis chegou ao Albergue de São João da Cruz dos Caminhos como quem chegou a casa. Veio ver amigos e estudar a possibilidade de no Verão, ou talvez antes, ajudar a subir até Santiago duas peregrinas em cadeira de rodas. Bravo, O’Luis!
E contou histórias. (E por que não haveria ele de contá-las a muitos noutra altura?)
Parte do seu trabalho meritório encontra-se em www.caminador.es. Visite-o, é a melhor informação sobre o Caminho Português da Costa e outros caminhos.
(Obrigado ao peregrino Manuel Rocha por no-lo ter trazido, e por mais uma vez nos ter visitado. Brevemente queremo-lo mais uma vez entre nós. Obrigado)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Uma nova experiência!


A Katarzyna e o Marian são Polacos. Chegaram ao nosso albergue com um enorme sorriso apesar de cansados. São amigos.  Como amigos decidiram caminhar lado a lado para uma nova experiência. Pois tal como diziam um amigo é alguém que está contigo quando precisas... ainda que muitas vezes quereria estar em outro lado... Katarzyna e Marian, obrigada pelo vosso sorriso e palavras...«Já é tempo de Caminhar!»

Verdadeiros artistas


e assim deixaram escrito:

De bicicleta para Santiago
vimos coisas sem igual
em Espanha tudo era lindo
mas mais ainda em Portugal

Vimos Deus na natureza
em algumas pessoas também
e a D. Esmeralda foi uma riqueza
mas Frei João foi mais alem.

Fomos muito bem recebidos
e a promessa ficou no ar
de voltarmos a ser acolhidos
quando a família aumentar!

Um poema para ti!


Viana tem mais calor
para os famintos de caminho
e os que oram com os pés.
Obrigado Cândida
pelo fogo
que brota das tuas mãos!

Despedida da Cândida






As despedidas são como os portos: abrem para o mar. Esta noite, no refeitório do Convento do Carmo, reunimo-nos, hospitaleiros do Albergue de São João da Cruz dos Caminhos e religiosos da comunidade, para, à volta da mesa, saudarmos a vida, celebrarmos o dom do acolhimento e da amizade que brota entre nós, e, que, por nós, Deus derrama no coração de tantos peregrinos que chegam a Viana do Castelo.
Foi também oportunidade para despedirmos a Cândida, gentil hospitaleira, que vai emigrar. Esta terra que parece querer obrigar a que nos façamos ao caminho tem também um coração de oiro, um coração grande e agradecido. Sim, quisemos agradecer a ajuda de todos, a boa vontade sempre pronta, as mãos disponíveis não importa para quem e sem esperar retorno.
É certo que alguns sem o saberem receberam anjos vestidos de peregrinos. E quem sabe, nós também.
Deus vos pague.
Não esquecemos ainda o Sr. Barroso, que tanto se deliciava no serviço do acolhimento. Não sabia línguas nem tinha talvez disponibilidade para as aprender. A alegria do acolhimento é, porém, linguagem universal que todos entendem pois nasce do coração aberto e disponível. E dele nascia uma torrente enorme!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Francisco Javier



Francisco Javier, espanhol de Cádiz, chegou ao Albergue no dia 10. Sabe que é peregrino e ama os caminhos. Não sabe quem foi Francisco nem quem foi Javier. Os Santos. Na sexta foi à missa depois de dormir e descansar bem no albergue. Gostou. Confundiu os monaguilhos com os padres. Mas que importa isso se a serenidade e simplicidade de uma missa normal lhe tocou profundamente a alma?Aos treze anos a vida rasgou-se-lhe como nunca. Como raramente acontece. Ainda não se uniu, por isso corre caminhos como quem cose uma túnica. No fim escreverá um livro. Por agora contempla as folhas que o Outono faz descer das árvores.

Roubaram São Tiago

 
Um peregrino repousou no Albergue de São João da Cruz dos Caminhos e sentiu falta do Senhor Santiago. Não disse nada. Quando regressou de Compostela ofereceu ao Albergue uma pequenina imagem do Apóstolo peregrino. E ele lá ficou a receber, saudar e abençoar os peregrinos e hospitaleiros. Até ontem. Sim, até ontem. Porque ontem um outro peregrino achou piada ao Apóstolo e levou-o consigo. Estamos agora sem Apóstolo, mas o amor e carinho pelos peregrinos não esmoreceu.
Nem esmorecerá.

Foram e vieram



Nélson e Sofia são de Coimbra. Foram e vieram. Cansados. Partiram da Sé do Porto, abraçaram o Apóstolo e chegaram hoje ao Albergue de São João da Cruz. Sofreram sol e chuva, mas estão cá. São artistas. Jovens e felizes. Prometeram voltar para conhecer melhor a cidade. Um vai trazer o Senhor Santiago. O outro vai trazer São João da Cruz dos Caminhos, que é o padroeiro do Albergue. Está prometido. Cumpram quando puderem. Os peregrinos agradecem. Sempre.

Faz parte do caminho...


Era uma vez uma serpente amargurada, que resolveu perseguir um pirilampo que só vivia para brilhar.

O pirilampo, tremendo de medo, tentava fugir o mais rápido que podia. Já a serpente, com sua expressão feroz, vivia somente para o perseguir e jamais pensava em desistir.

Fugiu um dia, fugiu outro e ao terceiro, já sem forças, o pirilampo finalmente parou e disse à serpente:
- Será que te posso fazer três perguntas?
- Não costumo permitir isso, mas já que te vou comer, deixo que o faças.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te algum mal?
- Não.
- Então porque é que me queres comer?
- PORQUE NÃO SUPORTO VER-TE BRILHAR!...


Tal como nesta história, por vezes deparamo-nos com pessoas que agem como serpentes e tentam prejudicar-nos a todo custo. Faz parte da vida e pode acontecer a qualquer um. Mas jamais permitam que uma serpente vos impeça de brilhar. Sejam antes felizes. Sendo a felicidade contagiosa, quem sabe se não conseguem transformar a serpente num radioso pirilampo.

Pedido de casamento a caminho


O Fábio e a Dora são alentejanos. De gema. Chegaram hoje ao nosso albergue para descansar e reforçar forças a fim de chegarem a Santiago de Compostela. São João da Cruz recebeu-os bem e com alegria. Foram muito bem vindos, e porque vinham tão animados deu gosto recebê-los. O Fábio tinha mesmo de vir, mas esteve para não vir. É ele quem trata da logística, apesar de engripado. Engripado e carregado de medicamentos na mochila foi assim que chegou. Despedi-me por fim e desejei-lhes bom descanso e boa caminhada, e porque são jovens e simpáticos, perguntei ao Fábio: «Durante o caminho vai pedir a Dora em casamento?» Respondeu-me que a ideia lhe passou pela cabeça, mas não trouxe o anel de noivado.
Mas o certo é que algures, quando a vida de ambos estiver mais consolidada, numa qualquer luminosa recta do caminho, o Fábio vai dizer-lhe (como prometeu que diria): «Dora, queres casar comigo?». Ela vai dizer que sim, e chorar. É o que está nos livros.

Juntos, fazemos caminho!

Setembro 2013 | Albergue São João da Cruz dos Caminhos

José, peregrino com história!




José é de Cadiz, Espanha. Por estes dias esteve no nosso Albergue. Nove anos de caminho. Chegou ao nosso albergue cansado e sem forças, pediu um abraço e contou a sua história. Vidas que se cruzam em nove anos de peregrinação! José, que chegues a casa com ânimo e força para abraçar a tua filha e neta. Que São João da Cruz dos caminhos oriente os teus passos, pois também ele cresceu sobre o manto protector da Virgem do Carmo a quem tu entregas-te nove anos do caminho da tua vida!