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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Deus está unido àqueles que não desistem de caminhar!



Caminho Interior Português de Santiago
Percurso de Viseu a Chaves, de 1 a 7 de Outubro 2012
 
PRIMEIRO DIA
Eu, Esmeralda, e o Rui, meu marido, casados há 37 anos iniciámos corajosamente a primeira etapa. De Viseu a Almargem o caminho é montanhoso mas bem assinalado. Ao chegar ao albergue pelas 16h,deparámo-nos com o essencial: banho e um colchão para dormir, terminadas as tarefas de um peregrino no albergue, aproveitámos para jantar o que restara do almoço. O caminho! Eis-nos no caminho! Convém reparar que o caminho nos ensina desprendimento dos bens materiais e de tudo o que é excessivo na vida. Que grande ensinamento! E logo a começar!

SEGUNDO DIA
A segunda etapa vai de Almargem a Ribolhos. Como faremos nos dias seguintes saímos às 7h da manhã: assim fugimos um pouco ao calor. E como ele se fez sentir naqueles dias! Ao pequeno-almoço devorámos os restos do dia anterior e fruta (abundante!) que apanhámos pelo caminho. Também nos cruzámos com fontes. Nelas parávamos para beber e nos refrescarmos. Recordo uma com uma capela em frente. E eis que uma senhora idosa passava por ali. Nós não nos ficámos, logo metemos conversa e ela diz-nos com orgulho que é a guardiã desta capela de S. Tiago, e que havia prometido acender todos os dias uma vela pelos caminheiros. Ficámos mais que reconfortados: pela frescura da água, pela bondade das palavras e pela luz que arde naquele lugar sagrado! Partimos e desejou-nos bom caminho! Obrigado! Interiormente prometi também rezar pela zelosa senhora.
Quando ao fim do dia chegámos ao novo albergue não tínhamos onde cozinhar. Como fazer, como cear? Bem, primeiro vamos ao banho. Depois de tomar banho estendemos o colchão onde íamos descansar… e como não havia mais que cear, novamente partilhámos o resto das sandes, a fruta que os pomares abandonados nos ofereceram e a água que trazíamos.
Dali a nada o sono bateu-nos à porta. E como é bom e consolador dormir depois de tanto caminhar!

TERCEIRO DIA
A terceira etapa levou-nos de Ribolhos a Penude. Levantamo-nos à hora habitual. Para não variar. Hoje, 3 de Outubro, é um dia especial, dia do meu aniversário! Viva! Celebro o aniversário no caminho! Que belo! Depois dum suculento pequeno-almoço de café com leite e pão – que já não tomávamos há 2 dias, porque aqui o caminho é muito montanhoso e isolado –, continuámos a caminhar! Afinal, somos peregrinos.
O dia foi duro como toda as etapas. Quando chegámos ao albergue, a hospitaleira que vive ao lado, fez de tudo para não nos faltar nada. Que agradecidos temos de ser! E depois ainda nos levou cobertores para não passarmos frio, e foi-nos contando que é viúva e vive com um filho deficiente.
Quando pela manhã lhe fomos entregar a chave do albergue, despedimo-nos com saudade. O caminho também faz amizade, favorece as confidências e quebra a solidão…

QUARTO DIA
A quarta etapa levou-nos de Penude a Bertelo. Os dias continuam outonais, mas de o calor quente, abafado e contínuo. Mas lembro-me bem que o caminho foi longo e deslumbrante!... Passámos ligeiros por Castro Daire, Lamego e Peso da Régua. O albergue é em Santa Marta de Penaguião: e como foi difícil lá chegar! Sim foi difícil, mas não dá para contar as vezes que parámos para contemplar a natureza!....O caminho enriquece-nos espiritualmente! E ajuda-nos a louvar a Deus! Como Deus é bom que nos deu o caminho onde sofremos – e o caminho é a vida!– onde contemplámos tantas maravilhas, onde enchemos a alma, onde refrescámos os olhos, onde vimos que Deus é Deus bom!...
Quando chegámos pudemos verificar que o albergue é do melhor que há! Mas não é verdade que os peregrinos merecem o melhor? Os hospitaleiros foram excelentes, cuidadosos, preocupados, esperavam-nos com todo o carinho. Que bela recompensa recebemos em troco duns míseros passos que demos…

QUINTO DIA
Naturalmente a quinta etapa levou-nos de Bertelo a Parada de Aguiar. A saída foi como manda a boa disciplina: à hora habitual. De passagem deixamos a chave no sítio combinado, no lugar onde os hospitaleiros nos presentearam com o pequeno-almoço! Pouco depois despedimo-nos com saudade, e prometemos voltar! Pudera!
Que grande aprendizagem é o caminho!......
Seguimos um longo e lindo percurso! O dia foi verdadeiramente longo e acabamos por chegar um pouco tarde. Era noite, porque a noite caíra. O cansaço e a noite impediram-nos de ver as setas amarelas. Naturalmente começámos a ficar preocupados: afinal, era noite bem noite. Pelas janelas ouvíamos telenovelas e mas nós não encontrávamos o albergue. Decidimos pedir ajuda. Lembramo-nos de pedir na primeira casa que víssemos com luz. Batemos, apresentamo-nos, imploramos, fomos humildes, mas recusaram-se a indicar-nos o albergue. Só pode ter sido por medo, pois não acreditámos que possa ter existido maldade. De regresso ao cansaço do caminho andámos muito, andamos largamente. Depois de andarmos bastante batemos noutra porta. Desta vez uma jovem veio assustada à janela. A mãe não queria conversas e desautorizou-a. Mas ela, misericordiosa e sensível subiu connosco indicando-nos onde ficava o albergue dos peregrinos de Santiago. (Mas o pai veio atrás, ligeiramente atrás, mudo e de cara fechada, pronto para o que desse e viesse!) Chegámos! Por fim, chegámos! O hospitaleiro mora quase ao lado, pelo que fomos bater à porta. Quando nos viram, quase chorando, vieram logo abrir a porta do albergue! Que acolhimento, que calor! E veio também a mulher e a filha do hospitaleiro trazendo um saco de alimentos para o jantar. Agradecemos, claro está, e demos boa noite! E rezámos, por nós e por eles.
Depois do banho, enquanto preparávamos o jantar reflectimos: se calhar, pensámos, não merecemos tanta maravilha, tanta dádiva que o caminho nos oferece!....

SEXTO DIA
A sexta etapa levou-nos de Parada de Aguiar a Vidago. O calor continua imenso, mas a água fresca da fonte refresca, sacia e dá-nos força para continuar. Com é bela a água!
O albergue fica situado nos Bombeiros de Vidago. Quando chegámos o bombeiro que nos recebeu foi muito acolhedor. O bombeiro tem um gato e foi o bombeiro e o gato que nos abriram o albergue. Quem o gato fez as honras da casa! O albergue tem o essencial: banho, e cama para descansar. Depois do ritual do peregrino, jantámos. Jantámos o que tínhamos trazido.
Como eu tinha contactado previamente a Associação dos Caminheiros de Chaves para saber o horário do autocarro para Viana, o presidente da Associação logo se ofereceu para ir ter connosco ao albergue. Simpático, levou-nos o horário e conversamos sobre o caminho! Ficámos a conhecer uma pessoa muito solidária!
Despedimo-nos, até um dia, e bom caminho!

SÉTIMO DIA
Na sétima etapa fomos de Vidago a Chaves. Saímos á hora habitual, tomámos o pequeno-almoço, e começámos o percurso. Comparado com os anteriores este é muito pequeno, por isso chegámos a Chaves às 11h da manhã. Ficámos por ali, almoçámos calmamente e apanhámos o autocarro das 14.30h. Estávamos de volta a casa!
Sim, estávamos de regresso, mas a caminhada contínua!... Por que Deus está unido àqueles que não desistem de caminhar!
[Esmeralda Balinha] 

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