Vou contar-vos um episódio dum grão
de trigo. Estamos no Outono. Os céus encontram-se claros, mas o frio sente-se
no corpo e muitas vezes na alma, o sol já não está tão quente. As folhas já começam a cair lentamente.
Já se encontram de outra cor. Toda a natureza começa também ela, já a falar-nos de
morte… Caminho, percorro um caminho campestre, na leiva a lavrar está a
silhueta dum lavrador que entoa as notas de uma alegre canção. Com passadas
majestosas, movimenta-se para cima e para baixo, com os pés na terra. Na sua
alma, descrevo uma viva esperança, duma próxima colheita, e das suas mãos calejadas,
recordo o partir em forma de leque de uns grãos de trigo,que logo ficarão
depositados na terra. Sim, o grão de trigo escondido na terra irá morrer aos
poucos, até morrer todo. Passarão alguns dias, e numa manhazinha assomará a
flor da terra. A vida nascerá da morte. Um longo caminho será necessário, invernos frios e chuvosos, noites de geada. Mas, por fim, chegará a primavera
com o gorjear dos passarinhos, com o manto das coloridas flores. O caulezito
de trigo ressurgirá adornado com formosa espiga, cheia de esperança. Os dias passarão,
o caminho abrir-se-á e a espiga irá granar. Chegará o Verão, com os seus dias
de calor, e o lavrador que hoje vi, dirigir-se-á novamente ao campo, ceifará o
trigo e em grandes gabelas levará o trigo para a eira para o debulhar… Cantará novamente cheio de alegria, porque terá realizado as esperanças nascidas
na sua alma, desta manhã outonal! Penso que se o grão de trigo não morrer,
o lavrador não terá o que colher… mas morrerá, e as espigas serão levadas para
a eira, com os seus milhares de grão que hão-de ser pão para muitas famílias… Assim,
deverá ser o nosso caminho de peregrinos? É Tudo uma questão de Amor!
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