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sábado, 20 de outubro de 2012

UM DIA HEI-DE VOAR.



Já vivi o tempo suficiente para perceber
que não nascem asas aos humanos.
Mas ainda não sei por que nos não nascem asas!
Também é certo que nenhuma ave me explicou ainda
o que são dores de asas
e como se defendem das correntes de ar.
Por enquanto, ainda não me explicaram.
Mas o que são dores de caminhar eu sei.
Eu sei o que custa vencer uma colina, beber um monte,
conquistar um horizonte.
Eu sei o prazer de caminhar juntos,
de juntos ouvir os ribeiros, os pássaros, as pedras, o vento.
E sei como é bom caminhar só,
com companheiros ao lado e à frente,
ouvindo passos, sentindo a presença de quem, em silêncio,
faz o mesmo esforço que eu para vencer-se.
E sei a alegria do fim, do cansaço, da vitória do sono.
E para isso não preciso de asas.
Ou melhor, para tudo isso é melhor não ter asas.
Algures no caminho hei-de surpreender-me.  Como um menino.
À minha frente há-de saltar uma pedra com história,
um seixo virgem, um ramo que amparou frutos,
um raio fresco de luz.
Ainda que feitos para voar alto como as águias,
tudo isso se vê diferente do chão.
Aliás, eu prefiro a comunhão do chão.
Acredito. Um dia hei-de voar.
Por agora, sentirei as dores do caminho.
[Frei João Costa]

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