sempre que me disponho a caminhar nada espero
Por fim a aventura sonhada pelos
hospitaleiros do Albergue de Peregrinos São João da Cruz, tornou-se realidade.
Quem diz que o sonho não comanda a vida, engana-se.
Decidimos caminhar, colocar em grupo os pés e
o coração ao caminho. Ao grupo de hospitaleiros alguns amigos se juntaram. Podiam
ser mais? Podiam, mas foram estes. E lá fomos para o caminho sentir que
caminhar é uma forma de procurar. Nesta I caminhada de Albergue em Albergue éramos
16 saindo à procura.
Empreendemos o caminho num dia soalheiro,
após uma semana de chuva. Sozinhos ou acompanhados tivemos em cada passada que
dávamos oportunidade de ver. Ver caminhos no compasso da natureza feitos ato de
respeito, de admiração e encanto. A paisagem é um atrativo
fantástico: montes, campos cultivados, animais, riachos, pequenas comunidades
com casas bem cuidadas, pessoas que se cruzavam, árvores, jardins, flores,
setas, conchas e por fim o imenso mar que nos acompanhou...
Pessoalmente, cada vez que me coloco a
caminho, sinto que me faz bem caminhar porque me transforma cansando-me… A
mochila pesa, as sapatilhas apertam, ora estamos com frio e vestimos agasalhos,
ora estamos cheios de calor e temos que carregar com as vestes, ora nos dói uma
perna, ora nos dói a outra, ora sentimos o corpo todo fraquejar.
Porém, sempre que me disponho a caminhar nada
espero. O caminho é uma paisagem onde cada um tem de descobrir o sentido nos
seus passos. Eu assim faço, eu assim fiz.
Nesta I caminhada de Albergue em Albergue, o
final da etapa foi para mim a parte mais dorida, a mais sofrida, a mais
intensa, porque me encontrei a sós e nem sempre em paz. Revoltei-me com a mente
que me pregava partidas, e com o corpo que muito se queixava. Era uma
reta infinita e eu só via á minha frente tanto para andar, tanto ainda para
caminhar. Sim, preço do longo caminho –
Muito mais do que por mim fora anunciado! – gerava
em mim uma só palavra: desilusão. A gestão do medo, esse sim, foi um grande
desafio para mim que caminhava a longa reta do Camarido. E caminhava e tinha
medo, e caminhava e tinha medo de não conseguir dar mais um passo, medo de não
conseguir chegar ao fim. Não há que mentir e colocar outras palavras para
aformosear esta etapa final. Eu tive medo de desistir, e logo eu que não sou de
desistir mas de inventar soluções!
Eu caminhava, devagar e a medo, e
perguntava-me: Onde se encontra a alegria do caminho? A cumplicidade com o
grupo, o êxtase com a natureza? Foi uma reta de suor e lágrimas, com dores a crescer
a cada metro que passava, de muito silêncio, de muita interrogação, de muito
combate e medo…
O caminho da vida é incerto, duvidoso,
confuso? É, por vezes é. A I caminhada de Albergue em Albergue assim foi… para
mim. Vivi momentos onde o caminho com o outro me trouxe muita serenidade. Vivi
momentos difíceis onde a dor se abeirou dos meus passos. Momentos de um enorme
cansaço. Caminhar muitas horas seguidas originou em mim um final sem forças.
Nunca me tinha encontrado assim nos caminhos que havia anteriormente percorrido.
E eu que gosto de caminhar!
O Caminho sem sombras de dúvidas é o encontro
com o inesperado e há que integrá-lo! No regresso, sentada no comboio,
juntamente com os companheiros do caminho, recordava o caminho percorrido e
pensava: voltaria a fazer este caminho? – O tempo responderá.
Após alguns dias que me distanciam da I
caminhada de albergue em albergue ainda me encontro a integrar a experiência. E
começo a dizer que o caminho começa após ter terminado. E este talvez seja o
mais doloroso começo! É o que vos digo… Que doloroso começo estou a começar!
Porém, começo-o com a esperança de um fim manso!
Não há páginas em branco onde se possa
descrever tudo o que vivi, nem palavras para explicar o que senti... O que me
resta? Resta-me caminhar, «sempre de bem a melhor». Afinal, peregrinar,
caminhar, ajudar, servir… é sempre possível, representa muito e é motivo de
orgulho para todos nós.
Um enorme bem-haja a todos e todas pela
adesão positiva nesta I caminhada de albergue em albergue que fortaleceu laços
no caminho. Já nos voltaremos a encontrar!
[Verónica Parente]
O sentido de equilíbrio determina a nossa atitude a postura em face do sofrimento ou dificuldades.
ResponderEliminarApreciei o testemunho.
Para quando a próxima caminhada ou atividade do Albergue?
Obrigado.
boa tarde Danieel;
ResponderEliminarobrigada pelo seu comentário.
Fica atento ao nosso blog e à nossa página do facebook que lhe daremos notícias.
continuação de bom caminho!
Ficarei atento.
ResponderEliminarobrigado.