sábado, 26 de janeiro de 2013

Uma oração em família!


Lembram-se dos relatos que a família carmelita de Viana do castelo, família Montes nos deixou aquando a peregrinação nas férias de Verão, em 2012, a Santiago de Compostela?

Certamente que sim. Aqui vos deixamos a oração que fizeram quando estiveram recolhidos na capela do silêncio ao despedirem-se de Santiago de Compostela.

JESUS NOSSO,
ENCHE-NOS DE TUAS BENÇÃOS ANTES DE SAIRMOS E PARTIRMOS
QUE A RECORDAÇÃO DESTA VISITA QUE ACABAMOS DE FAZER-TE
PERSERVERE NA NOSSA MEMÓRIA
E NOS FAÇA AMAR-TE MAIS E MAIS
FAZ QUE QUANDO VOLTEMOS A VISITAR-TE, VOLTEMOS MAIS SANTOS
AQUI TE DEIXAMOS JESUS O NOSSO CORAÇÃO
PARA QUE TE ADORE CONSTANTEMENTE
E O FAÇAS MAIS AGRADÁVEL A TEUS DIVINOS OLHOS.
ADEUS JESUS, ADEUS JESUS SENHOR NOSSO
PARA TI TODO O NOSSO AMOR

TEUS FILHOS:
JOÃO. JÚLIA RITA E SIMÃO

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sim, «Um Pastorinho»!


1. Um Pastorinho, só, está penando,
Privado de prazer e de contento,
Posto na pastorinha o pensamento,
Seu peito de amor ferido, pranteando.

2. Não chora por tê-lo o amor chagado,
Que não lhe dói o ver-se assim dorido,
Embora o coração esteja ferido,
Mas chora por pensar que é olvidado.

3. Que só o pensar que está esquecido
Por sua bela pastora, é dor tamanha,
Que se deixa maltratar em terra estranha,
Seu peito por amor mui dolorido.

4. E disse o Pastorinho: Aí, desditado!
De quem do meu amor se faz ausente
E não quer gozar de mim presente!
Seu peito por amor tão magoado!

5. Passado tempo em árvore subido
Ali seus belos braços alargou,
E preso a eles o Pastor ali ficou,
Seu peito por amor mui dolorido.

[São João da Cruz]

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

No caminho: sofrimentos que não saram!


O que Diz a Morte

Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...

Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem. -

Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das cousas invisíveis, muda e fria,

É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.

[Antero de Quental, in "Sonetos"]

A new day is rising


Quando...


 
«Quando tu me fitavas,
Teus olhos sua graça me infundiam;
E assim me sobreamavas
E nisso mereciam
Meus olhos adorar o que em ti viam.

Não queiras desprezar-me,
porque, se cor trigueira em mim achaste,
já podes ver-me agora,
pois, desde que me olhaste,
a graça e a formosura em mim deixaste.»

[São João da Cruz]

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

No caminho: a alegria

 
Em certa ocasião, um jovem de uma aldeia teve que viajar até à capital. Enquanto ia em grupo, e sem ele se dar conta, alguém tirou-lhe o mais valioso que tinha: um relógio que seu pai lhe havia oferecido com muito sacrifício antes de morrer. Quando se deu conta, o seu coração encheu-se de uma grande amargura e sentiu um profundo ódio pelo desconhecido que lhe tinha tirado o seu valioso tesouro.
A partir desse momento, os seus pensamentos centraram-se no anónimo ladrão. Pensava nele dia e noite, odiava-o com todo o seu coração, e o seu rancor crescia cada vez que tinha de ver a hora no outro relógio mais pequeno que agora usava. Havia noites em
que não dormia de raiva e de impotência. Tornou-se irritadiço e iracundo com a sua própria família. Até que um dia, angustiado por tanto ressentimento, fez esta oração: «Senhor, já não posso continuar assim. Por isso quero perdoar a esse ladrão que levou o meu relógio. Mais ainda: quero oferecer-lhe o meu relógio. De tal modo que, quando esse ladrão morrer, Tu não o julgues por este roubo, porque não houve roubo nenhum. Eu já lhe ofereci o meu relógio».
A partir desse dia, o jovem foi feliz. Recuperou a alegria que durante meses tinha perdido, porque não voltou a trazer à sua memória aquele facto torturante. E desde então pôde viver em paz.
[Autor anónimo]

A caminhada


A Tua caminhada ainda não terminou....
A realidade te acolhe dizendo que pela frente
o horizonte da vida necessita
de tuas palavras e do teu silêncio.

Se amanhã sentires saudades,
lembra-te da fantasia e sonha com tua próxima vitória.
Vitória que todas as armas do mundo jamais conseguirão obter,
porque é uma vitória que surge da paz e não do ressentimento.

É certo que irás encontrar situações tempestuosas novamente,
mas haverá de ver sempre o lado bom da chuva
que cai e não a faceta do raio que destrói.

Se não consegues entender que o céu deve estar dentro de ti,
é inútil buscá-lo acima das nuvens e ao lado das estrelas.
Por mais que tenhas errado e erres,
para ti haverá sempre esperança,
enquanto te envergonhares de teus erros.

Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo,
lutar por quem te rejeita é quase chegar a perfeição.

A juventude precisa de sonhos
e se nutrir de lembranças,
assim como o leito dos rios precisa da água que rola
e o coração necessita de afeto.

Não faças do amanhã o sinônimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo que nunca mais.

Teus passos ficaram.
Olhes para trás...
mas vá em frente pois há muitos que precisam que chegues
para poderem seguir-te.

[Charles Chaplin]

Tu, também não corras. Caminha!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A arvore, a lua e a noite.


E por Tudo vos digo…

A arvore, a lua e a noite.

Esta árvore como tantas outras árvores que se encontram na aparência terrestre, conhece uma amiga chamada lua, ambas vivem num hasteado cenário da noite…Neste cenário bucólico da noite, tudo lhes é particularizado, calmo, sereno... Convivem entre os sons nocturnos que convidam a espelhar sobre a claridade da lua a vida implementada na humildade de serem elas mesmas. A árvore envolve-se com esta lua, não imaginando o quanto é apreciada e acarinhada. A noite transforma-se em confidente salientando a familiaridade conquistada. A árvore sujeita ao olhar que reflecte o peso da jornada anseia pela lua, pois nela vê reflectida a sua transparente reprodução. Sempre que o sol pensa em dormir, em se ausentar para descansar, é convidada a entrar em cena a noite. Faz-se presente, torna-se íntima. Na noite, permanece entre frestas de silêncio, a solidão sonora do vento do deserto fundo, implantado pela tranquilidade de uma realidade que cala no mais profundo centro! Harmoniosamente o Tudo conquista espaço e debita nesta árvore a força. Interiorizando a certeza de amanhãs que se sucedem sempre pelo culminar de um dia, esta árvore sabe que o encontro é realizável, autêntico e apesar do tudo, tranquilizante. A espera por este encontro enaltece a capacidade da delonga… O que a árvore vive e compartilha durante o dia é circunspecto na noite. Não a conhecendo verdadeiramente uns e ajuizando outros a certeza do seu trajecto, a árvore sabe que será compreendida na noite que a espera… compreendendo-a. Na noite está o surgimento, o âmago de uma renovada vida. Esta noite traz consigo a presente calma e esperada placidez. A árvore regressa em cada dia com ânsias deste encontro e nesta verdade se quer (re)conhecer, defrontando as forças ainda não conquistadas da certeza em que crê.

Onde nos (re)vemos? Árvore, lua ou na noite?!
 
[V.P.]

Por esse caminho, vai!

O que é peregrinar? (VII)

 
A Peregrinação Jacobeia

Roma e Santiago (para além de Jerusalém) são, desde vários séculos, duas importantes metas das peregrinações cristãs. Ambas têm um fim semelhante: orar ante os túmulos de dois apóstolos: São Pedro e São Tiago. Estas duas peregrinações, junto a de Jerusalém, se denominam de «maiores».
Fazer o Caminho de Santiago é o modo tradicional de peregrinar até ao túmulo de um Apóstolo de Jesus Cristo, um dos três íntimos, testemunha dos actos salvadores, e primeiro mártir do Colégio Apostólico; aquele que predicou a fé nas regiões ocidentais da Europa.
A peregrinação a São Tiago foi se fazendo cada vez mais numerosa apesar das dificuldades que deviam superar os primeiros peregrinos, ao terem que caminhar então, em Espanha, por zonas muito próximas as batalhas que travavam cristãos e muçulmanos. No século X, eram frequentes as incursões de normandos e muçulmanos que faziam dos peregrinos as vítimas do seu furor guerreiro. No entanto, estes riscos não foram capazes de cortar a corrente cada vez maior de peregrinos que desde o coração da Europa caminhava para prostrar-se aos pés de São Tiago; era um fluxo de peregrinos quantitativamente variável ao largo dos séculos, mas ininterrupto até os nossos dias.
Actualmente, no início do terceiro milénio, assistimos a um interessante processo de revitalização da peregrinação a Compostela com motivações e exigências muito diversas. Em cada tempo surge a necessidade do espírito respirar ar puro num mundo que asfixia com as suas próprias convicções materiais, procurando o encontro consigo mesmo e o contacto coma natureza…
A peregrinação é sempre religiosa. A que se dirige ao Túmulo do Apóstolo São Tiago tem a finalidade do encontro com as raízes da fé, com o primeiro Apóstolo Mártir; Isto é, em alguém que esteve em contacto directo como o Filho de Deus. Trata-se de um “verdadeiro legado da história da Igreja”.
Como em todos os fenómenos humanos, dão-se aderências diversas com acentos que derivam do factor central. Assim, surgem também outras dimensões, como o comércio, a arte, a música, criando-se, por si mesmo, em volta a este fenómeno, um grande movimento cultural que durante séculos, acompanhava o factor central da peregrinação. Com este movimento de massas, que supõe a peregrinação, relacionava-se a história, a gastronomia, a hospedagem, a arte, o folclore, o assentimento de novos povos… é o efeito de intercâmbio gerado pela peregrinação.
Todo este conjunto derivado da peregrinação, pode ser estudado exclusivamente como um feito de dimensão cultural, abstraindo-se do sentido da peregrinação e, em consequência, destaca-se a riqueza que encerre no campo da arte, dos costumes das pessoas, etc.

[Associação | Confraria de São Tiago | Espaço Jacobeus]

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Atitude

O que é peregrinar? (VI)

 
O sentido espiritual da Peregrinação
 
A tradição das peregrinações cristãs tem as suas raízes na concepção peregrinatória do povo de Israel: Um povo que ao encontrar a liberação da realidade que o oprimia, ao peregrinar pelo deserto, adquire consciência de povo em caminho, peregrina pela vida até a terra da promessa. Jesus viveu este ambiente e ele mesmo peregrinou como faziam no seu tempo os judeus observantes.
No Novo Testamento, até o ano 66 as comunidades cristãs podiam peregrinar ao Templo de Jerusalém. Posteriormente, as constantes persecuções e consequentes destruições da cidade, fizeram impossível a visita aos Santos Lugares. Mais tarde, com o estabelecimento da paz, no século IV, e a reconstrução dos Santos Lugares evocadores dos Actos sagrados do Antigo e do Novo Testamento, começam a ser visitados e revitalizados como centros privilegiados de peregrinação. O contacto com estes lugares provoca no peregrino a ânsia de inserir-se na mesma história de salvação.
A peregrinação supõe uma certa ruptura com o mundo e com a “pátria”, evoca a figura de Abraão, nosso pai na fé, que se pôs a caminho até a terra prometida por Deus. A atitude do patriarca convida a considerar a vida terrena como um exílio: “longe do Senhor”. O peregrino que se põem a caminho, motivado pela fé e a esperança, vai descobrindo a sua comunhão com os que o precederam e com os que na actualidade peregrinam e desta maneira se torna “concidadãos dos Santos e membros da casa de Deus”.
O Homem é, por natureza, “viator” já que não tem na terra uma cidade permanente, antes anda a procura da do futuro. A aspiração mais profunda do homem é a de alcançar a Deus. E antes de alcançar esta meta, o Homem que se encontra exilado, longe do Senhor, descobre que o caminho é duro e, frequentemente, é um andar as apalpadelas. No entanto, neste caminhar, o Senhor vai abrindo o caminho. Ele mesmo se faz: “Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida” (João 14, 6).
A reflexão cristã convida a que cada um se considere a si próprio como um “peregrino”, isto é, um estrangeiro, alguém que habita em terra estranha e que caminha para a pátria definitiva que se alcança através do Pai, através da morte. A comparação entre a vida terrena como peregrinação e a celestial foi frequente em S. Paulo, bem como nos escritores e ascetas cristãos de todos os tempos.

[Associação | Confraria de São Tiago | Espaço Jacobeus]

Para chegares...


domingo, 13 de janeiro de 2013

Onde não a procurei?


 «A felicidade!
 Eu a busquei, e para achá-la,
 percorri as cidades, atravessei os reinos,
cruzei os mares.
A felicidade! [...]
 
Onde não a procurei?»
[Padre Hermann Cohen |Frei Agostinho Maria do Santíssimo Sacramento] 

Pedras no caminho?

O que é peregrinar? (V)

 
Condicionantes e circunstâncias actuais da peregrinação
 
O Homem vive numa sociedade complexa e condicionante. Nesta sociedade o homem preocupou-se em a organizar e pretendeu emancipar-se da sua existência. Em grande medida o homem reduziu o drama da sua existência ao desenvolvimento do processo produtivo e aos desequilíbrios que este leva consigo.
No entanto, para o “Homo religiosus”, a sua inquietude central transcende. A vida não é apenas a espera do fim, senão uma peregrinação como visão antecipada. Necessitamos explorar o nosso mundo interior, descobrir em si mesmo o eco da harmonia.
 
[Associação | Confraria de São Tiago | Espaço Jacobeus]

sábado, 12 de janeiro de 2013

No caminho, o que são os amigos?


…o correr dos dias tem sido intenso...
reencontrei, no entanto, uma das mais belas definições de amizade...
 
Os amigos, esses estranhos que nós amamos e nos amam olhamos para eles e são sempre adolescentes, assustados e sós sem nenhum sentido prático sem grande noção da ameaça ou da renúncia que sobre a luz incide descuidados e intensos no seu exagero de temporalidade pura. Um dia acordamos tristes da sua tristeza pois o fortuito significado dos campos explica por outras palavras aquilo que tornava os olhos incomparáveis. Mas a impressão maior é a da alegria de uma maneira que nem se consegue e por isso ténue, misteriosa: talvez seja assim todo o amor.

[José Tolentino Mendonça, A Noite Abre Meus Olhos]

De que lado está o tubarão?

O que é peregrinar? (IV)


 
Finalidade da Peregrinação
 
O Homem na sua vida é, definitivamente, um peregrino: um ser em busca de si mesmo, da sua própria identidade e da transcendência (Homo viator). É por isso que a peregrinação aporta o carácter simbólico de plasmar visivelmente o caminho que se recorre interiormente. O que constitui a alguém em peregrino? É a intencionalidade que tem o que realiza a peregrinação com fé; a isto há que juntar-se o cumprimento das condições e o significado que lhe atribui a Igreja.
Os santos, que são o modelo dos crentes, concebem o tempo da vida como uma passagem, a Bíblia utiliza expressões como as de um povo nómada, que hoje coloca a sua tenda aqui e amanhã noutra parte. Santa Teresa de Jesus escrevia que a vida é ”como uma noite em uma má pousada”.
Em resumo, o tempo da nossa vida é como uma peregrinação que tem um ponto de partida, um caminho que recorrer e uma meta a que devemos chegar: somos ”homo viator”.

[Associação | Confraria de São Tiago | Espaço Jacobeus]

E por vezes...


E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos
E por vezes encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.


 [David Mourão-Ferreira]

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Desistir?

O que é peregrinar (III)

 
Peregrinar não é apenas andar

Ao optar-se por este enfoque é necessário o vincular com a causa que o gerou. As vezes, frequentemente, encontram-se orientações que caem neste reducionismo, sobretudo depois da declaração feita pelo Conselho da Europa ao declarar o Caminho de Santiago como Primeiro Itinerário Cultural Europeu. Sem a dimensão da fé não existiria a dimensão cultural. No caso de prescindir da fé estaríamos a nos situar fora do que é peregrinar e careceria de sentido. Neste caso seria apenas classificada como marcha, desporto, turismo, etc.
Primeiro surgirão os peregrinos, depois o estímulo da Igreja e o Jubileu: No caso de São Tiago, durante os primeiros séculos do cristianismo havia um culto local (como se descobriu nas escavações de 1945-1957, ao aparecer um cemitério cristão datado dos primeiros séculos, junto ao túmulo do Apóstolo). Nos inícios do século XI, este culto deu-se a conhecer através do Sacro Romano Império, posterior a Carlos Magno, a toda a Europa, que se sentia atraída pelo Túmulo Apostólico de São Tiago. Com o fluxo, cada vez mais numeroso de peregrinos, os Papas estimularam a peregrinação recomendando-a e oferecendo indulgências aos peregrinos. Neste contexto surgiu a graça singular que foi o Jubileu Compostelano concedido em 1122 por Calixto II, e confirmado especialmente por Alexandre III em 1179.
Peregrinar não é apenas andar sobre um caminho (no caso da peregrinação a pé) ou realizar um determinado número de quilómetros; Trata-se de andar num caminho motivado “por” ou “para algo”. Tem a peregrinação um sentido motivador e uma riqueza pessoal e religiosa que é necessário descobrir.
A peregrinação pode fazer-se por qualquer caminho e por qualquer meio de transporte, sempre que se tenha a intenção de a realizar e que se respeitem as condições estabelecidas.

[Associação | Confraria de São Tiago | Espaço Jacobeus]

Dois caminhos


Existem durante nossa vida, sempre dois caminhos a seguir : aquele que todo mundo segue,e aquele que a nossa imaginação nos leva a seguir. O primeiro pode ser mais seguro,o mais confiável, o menos critíco, o que você encontrará mais amigos … mas, você será apenas mais um a caminhar. O segundo, com certeza vai ser o mais difícil, mais solitário, o que você terá maiores críticas; mas também, o mais criativo, o mais original possível. Não importa o que você seja, quem você seja, ou que deseja na vida, a ousadia em ser diferente reflete na sua personalidade, no seu caráter, naquilo que você é. E é assim que as pessoas lembrarão de você um dia.

[Ayrton Senna]

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Sobre o caminho


Nada

nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão a palavra
Não interrogues não perguntes

entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença
Não colecciones dejectos o teu destino és tu
Despe-te
não há outro caminho

[Eugénio de Andrade]

O que é peregrinar (II)


 
As Peregrinações Cristãs
As peregrinações entre os cristãos têm as suas raízes no Antigo Testamento com Abraão como modelo e, com o proceder do povo de Israel que peregrinou (Êxodo, culto em Jerusalém, etc.). Jesus seguiu este mesmo costume peregrinando a Jerusalém.
A Igreja, nos seus começos, seguiu a praxis de Israel: visitavam-se e veneravam-se os Santos Lugares (sobretudo até o ano 66) que aparecem no Novo Testamento como testemunhas de presença de Jesus e que foram santificados com a sua morte.
Posteriormente, as cruzadas, surgem em modo de peregrinações armadas, que se põem em marcha em 1095, quando os muçulmanos ameaçavam cortar o acesso, aos cristãos, aos Santos Lugares. A peregrinação aos Santos Lugares permanece viva nos nossos dias.
O culto aos Santos e as suas relíquias, começa com o culto aos mártires, considerados como testemunhas da nova fé, celebrando as suas virtudes cristianas, o seu valor, dignidade e o seu testemunho que selam com a sua própria vida.
Sobre os túmulos dos mártires levantaram-se basílicas que se enchiam de fiéis no dia de seu aniversário (que não correspondia com o dia do seu nascimento, como no caso dos pagãos, mas com o do seu martírio”dies natalis”). Ao princípio, o culto tinha um carácter estritamente local, mas rapidamente acudiram verdadeiras multidões, a vezes de regiões remotas. A invocação aos mártires podia se realizar em qualquer lugar mas, era sem dúvida, no seu túmulo onde esta invocação tinha mais eficácia e onde se prodiziam os feitos milagrosos mais relevantes.

[Associação | Confraria de São Tiago | Espaço Jacobeus]

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O segredo de ser feliz


 
[musica: Vangelis - Conquest Of Paradise]

Acorda!

O que é Peregrinar? (I)

 
Origens da Peregrinação
No mundo antigo, as peregrinações, consideradas no geral e desde um ponto de vista histórico e religioso, faziam referência a uma viagem empreendida individual ou colectivamente para visitar um lugar santo, uma cidade ou um templo consagrado pela recordação ou pela presença de um herói, de uma divindade ou de um poder sobrenatural.
A peregrinação, assim considerada, encontra-se assim desenvolvida em quase todas as religiões e culturas, desde a pré-história até os mais elevados círculos religiosos e culturais. Paralelamente a este fenómeno da peregrinação, está o da transladação dos restos ou relíquias do herói para beneficiar-se, pela influência da sua proximidade, em momentos de muito perigo.

[Associação | Confraria de São Tiago | Espaço Jacobeus]

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Quando vier a Primavera


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.  
O que for, quando for, é que será o que é.
[Alberto Caeiro]

Animemo-nos...

domingo, 6 de janeiro de 2013

O acaso


«O acaso é o pseudónimo que Deus usa quando não quer assinar.»
[António Lobo Antunes]

Dia de Reis: Colhe o dia, porque és Ele!


Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa?
Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.

[Ricardo Reis]

sábado, 5 de janeiro de 2013

Assim os Rei Magos: em contemplação!


«A contemplação não é mais do que uma infusão secreta, pacífica e amorosa de Deus, que se lho permitirem, inflama a alma em espírito de amor… a alma vai-se sentindo inflamada pelo amor divino, sem que ela própria o saiba nem compreenda como e donde lhe vem tão delicado amor.»
[in livro da Noite Escura - São João da Cruz ]

O Quarto Rei Mago


Aníbal também viu a estrela. Como Belchior, Gaspar e Baltazar, soube imediatamente que alguma coisa importante se passava. Procurou nos livros e descobriu que aquela estrela anunciava o nascimento do Salvador. Então, Aníbal pegou
nas três pérolas mais belas do seu tesouro para as levar ao Menino. E pôs-se a caminho.
Há muito que caminha, de olhos postos no céu, a fim de não perder de vista a estrela. Eis senão quando tropeça em qualquer coisa. No meio da estrada encontra-se um homem estendido.
— Que fazes aqui? — pergunta ele, cheio de dó.
— Estou à espera da morte — responde o homem com uma voz débil. — Estou muito doente e sem dinheiro para me tratar.
Aníbal não hesita um segundo. Ergue o doente e leva-o à cidade mais próxima. Ali, deixa-o aos cuidados de uma mulher idosa a quem entrega a primeira pérola.
— Esta pérola é para comprares tudo o que for necessário para tratares este homem — diz-lhe ele, antes de voltar a pôr-se de novo a caminho.
Aníbal continua a andar, sempre de olhos fitos no céu. De repente, ouve gritos. Um homem bate violentamente numa mulher.
— Que te fez ela? — pergunta ele com pena.
— É uma escrava! Não vale nada! — responde o homem, com ares de mau. — Não sabe trabalhar!
Sem hesitar, Aníbal tira da sua bolsa uma segunda pérola.
— Toma — diz ele, entregando-a ao homem. — É para comprar a liberdade desta mulher. Deixa-a ir embora.
O homem pega na pérola e liberta a rapariga.
— Obrigada! — diz ela a Aníbal, antes de fugir dali.
O Rei Mago prossegue o seu caminho, sempre de olhos no céu.
Já perto de Belém, eis que uma viúva banhada em lágrimas vem a correr ter com ele.
— O que aconteceu? — pergunta-lhe, com doçura.
— Os soldados levaram o meu filho! — diz ela a soluçar. — Roubou farinha para me dar de comer! Ninguém mais tenho no mundo!
Também desta vez Aníbal não hesita um segundo. Segue a viúva até à prisão. Dá aos soldados a sua última pérola para que libertem o preso. E assim a mãe recupera o filho. Aníbal, esse, apressa o passo porque já está atrasado.
Quando chega junto do presépio, os três Reis Magos já tinham entregue os presentes ao recém-nascido e já se tinham ido embora. Aníbal só tem as desculpas para oferecer… por ter chegado de mãos vazias!
No entanto, o Menino Jesus recebe-o com um grande sorriso e de braços estendidos.
Não é a visita deste Mago tão generoso o mais belo de todos os presentes?

[Christine Pedotti]

Em dia de Reis


Leitor 1: Ó faustos reis:
Leitor 2: Belchior, Baltazar e Gaspar,
Leitor 3: vós que, avisados por uma estrela, diligentes,
viestes à Casa de Pão da Vida,
Leitor 4: vós que guiados pela estrela do Céu,
Leitor 5: fizestes desde o Oriente o caminho de partida:


TODOS: Entrai todos: Vinde todos.
Entrai e descansai um pouco com o Menino na mangedoira do nosso coração.

Leitor 3: Vós, digníssimos e sagrados Reis,
Leitor 4: que adorastes o mesmo Deus numa pobre e miserável gruta;
Leitor 3: Vós, a quem foi pedido que sobre Ele reclinásseis o vosso olhar,

Leitor 4: e Lhe oferecestes, de joelhos, ouro, incenso e mirra:

TODOS: Entrai todos: Vinde todos!
Entrai e descansai um pouco com o Menino na mangedoira do nosso coração.

Leitor 1: Ó amáveis Reis,
Leitor 2: Ensinai-nos o caminho para que possamos gentilmente imitar-vos.
Leitor 6: Ajudai-nos a prolongar a nossa adoração no presépio do mundo
Leitor 7: e reunidos no estábulo, de coração aberto à luz,
Leitor 8: saibamos oferecer a Jesus toda a nossa vida,
Leitor 9: saibamos desposar e hospedar a Beleza Eterna!
Leitor 10: todos os nossos sentimentos e trabalhos,
Leitor 11: Todo o nosso suor e esperanças,
Leitor 1: Todo o nosso estudo e ação,
Leitor 2: Todo o nosso amor e desejos,
Leitor 3: A nossa juventude e vontade de mudança,
Leitor 4: As nossas alegrias e dores,
Leitor 5: As nossas contradições e boas vontades,
Leitor 6: As nossas faltas e penas,
Leitor 7: As nossas famílias e lares,
Leitor 8: Os nossos alunos e clientes,
Leitor 9: Os nossos sonhos e manias;
Leitor 10: E assim desposemos em nós a Beleza Eterna
Leitor 11: que intimamente nos cativa e seduz!

TODOS: Entrai todos: Vinde todos.
Entrai e descansai um pouco com o Menino na mangedoira do nosso coração.

Leitor 1: Ó majestades orientais!
Leitor 2: que as nossas palavras, sejam anúncio de dias luminosos,
Leitor 3: que o nosso tempo, seja cada vez mais disponível para a escuta e o serviço;
Leitor 4: que a nossa vida seja cada vez mais uma luz no seio da comunidade carmelita,
Leitor 5: na família, nos trabalhos, na cidade…

TODOS: Entrai todos: Vinde todos.
Entrai e descansai um pouco com o Menino na mangedoira do nosso coração.

Leitor 6: Ó bondosos Reis,
Leitor 7: ajudai-nos, amparai-nos, protegei-nos e iluminai-nos!
Leitor 8: Conduzi os nossos passos deste novo ano sob a sabedoria da vossa Luz,
Leitor 9: pondo-nos debaixo da vossa proteção,
Leitor 10: e levai-nos à sabedoria da Luz que acabais de contemplar;
Leitor 1: Aconchegai-nos na sombra maternal de Maria, Nossa Mãe,
Leitor 2: no doce silêncio do sereno de São José, nosso pai.

TODOS: Entrai todos: Vinde todos.
Entrai e descansai um pouco com o Menino na mangedoira do nosso coração.

Leitor 8, 9, 10: Vinde, ó santos Reis, ensinar-nos o caminho novo de da liberdade!
Leitor 3: O caminho novo do amor e da vida abundante e do amor!
Leitor 4: Levai-nos também a nós ao Menino do Presépio,
Leitor 5: para que jamais fiquemos sós à margem do caminho!
Leitor 6: E ensinai-nos a regressar à vida por um caminho diferente
Leitor 7: Para que o afastamento da Luz nunca seja em nós o presente!
 
TODOS: Entrai todos: Vinde todos.
Entrai e descansai um pouco com o Menino na mangedoira do nosso coração.

[Jogral Entrai todos: Vinde Todos | V.P]

E porque não?

 

Nasci para servir os outros

 
Um enorme cepo de oliveira ardia lentamente ao canto da lareira. Entretanto, recordava o seu passado. «No princípio, era uma oliveira como as outras. Além de dar azeitona, os pássaros abrigavam-se nos meus ramos. Passaram os anos e comecei a sentir dificuldades: a seiva já não atingia os ramos altos, que começaram a secar. Tornei-me numa velha oliveira que já não dava azeitona. Sequei pouco a pouco e tornei-me num velho cepo. Vieram os lenhadores arrancar-me e vim parar a esta lareira. Pegaram-me fogo e eu dou-lhes o calor de que necessitam. Á minha volta, nesta noite fria, os homens esfregam as mãos, as mulheres falam e as crianças dormitam». E o último pensamento do cepo foi este: «Nasci para servir os outros. Fiz o melhor que pude no desempenho da missão que me coube. Por isso, morro tranquilo e feliz. No punhado de cinza a eu me reduzo fica a alegria de me ter dado completamente aos outros até ao fim».

Quem caminhou?


Quem caminhou entre o violeta e o violeta
quem caminhou por entre
os vários renques de verdes diferentes
de azul e branco, as cores de Maria,
falando sobre coisas triviais
na ignorância e no saber da dor eterna
quem se moveu por entre os outros e como eles caminhou
quem pois revigorou as fontes e as nascentes tornou puras
tornou fresca a rocha seca e solidez deu às areias

de azul das esporinhas, a azul cor de Maria,
sovegna vos
eis os anos que permeiam, arrebatando

flautas e violinos, restituindo
aquela que no tempo flui entre o sono e a vigília, oculta
nas brancas dobras de luz que em torno dela se embainham.

Os novos anos se avizinham, revivendo
através de uma faiscante nuvem de lágrimas, os anos, resgatando
com um verso novo antigas rimas. Redimem
o tempo, redimem
a indecifrada visão do sonho mais sublime
enquanto ajaezados unicórnios a essa de ouro conduzem.
A irmã silenciosa em véus brancos e azuis

por entre os teixos, atrás do deus do jardim,
cuja flauta emudeceu, inclina a fronte e persigna-se
mas sem dizer palavra alguma
mas a fonte jorrou e rente ao solo o pássaro cantou

redimem o tempo, redimem o sonho
o indício da palavra inaudita, inexpressa
até que o vento, sacudindo o teixo,

acorde um coro de murmúrios
e depois disto nosso exílio

[T. S. Eliot (1888-1965)]