quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Ecos da I caminhada de Albergue em Albergue (IV)

 
 
 
sempre que me disponho a caminhar nada espero
 
Por fim a aventura sonhada pelos hospitaleiros do Albergue de Peregrinos São João da Cruz, tornou-se realidade. Quem diz que o sonho não comanda a vida, engana-se.
Decidimos caminhar, colocar em grupo os pés e o coração ao caminho. Ao grupo de hospitaleiros alguns amigos se juntaram. Podiam ser mais? Podiam, mas foram estes. E lá fomos para o caminho sentir que caminhar é uma forma de procurar. Nesta I caminhada de Albergue em Albergue éramos 16 saindo à procura.
Empreendemos o caminho num dia soalheiro, após uma semana de chuva. Sozinhos ou acompanhados tivemos em cada passada que dávamos oportunidade de ver. Ver caminhos no compasso da natureza feitos ato de respeito, de admiração e encanto. A paisagem é um atrativo fantástico: montes, campos cultivados, animais, riachos, pequenas comunidades com casas bem cuidadas, pessoas que se cruzavam, árvores, jardins, flores, setas, conchas e por fim o imenso mar que nos acompanhou...
Pessoalmente, cada vez que me coloco a caminho, sinto que me faz bem caminhar porque me transforma cansando-me… A mochila pesa, as sapatilhas apertam, ora estamos com frio e vestimos agasalhos, ora estamos cheios de calor e temos que carregar com as vestes, ora nos dói uma perna, ora nos dói a outra, ora sentimos o corpo todo fraquejar.
Porém, sempre que me disponho a caminhar nada espero. O caminho é uma paisagem onde cada um tem de descobrir o sentido nos seus passos. Eu assim faço, eu assim fiz.
Nesta I caminhada de Albergue em Albergue, o final da etapa foi para mim a parte mais dorida, a mais sofrida, a mais intensa, porque me encontrei a sós e nem sempre em paz. Revoltei-me com a mente que me pregava partidas, e com o corpo que muito se queixava.  Era uma reta infinita e eu só via á minha frente tanto para andar, tanto ainda para caminhar. Sim, preço do longo caminho –
Muito mais do que por mim fora anunciado! – gerava em mim uma só palavra: desilusão. A gestão do medo, esse sim, foi um grande desafio para mim que caminhava a longa reta do Camarido. E caminhava e tinha medo, e caminhava e tinha medo de não conseguir dar mais um passo, medo de não conseguir chegar ao fim. Não há que mentir e colocar outras palavras para aformosear esta etapa final. Eu tive medo de desistir, e logo eu que não sou de desistir mas de inventar soluções!
Eu caminhava, devagar e a medo, e perguntava-me: Onde se encontra a alegria do caminho? A cumplicidade com o grupo, o êxtase com a natureza? Foi uma reta de suor e lágrimas, com dores a crescer a cada metro que passava, de muito silêncio, de muita interrogação, de muito combate e medo…
O caminho da vida é incerto, duvidoso, confuso? É, por vezes é. A I caminhada de Albergue em Albergue assim foi… para mim. Vivi momentos onde o caminho com o outro me trouxe muita serenidade. Vivi momentos difíceis onde a dor se abeirou dos meus passos. Momentos de um enorme cansaço. Caminhar muitas horas seguidas originou em mim um final sem forças. Nunca me tinha encontrado assim nos caminhos que havia anteriormente percorrido. E eu que gosto de caminhar!
O Caminho sem sombras de dúvidas é o encontro com o inesperado e há que integrá-lo! No regresso, sentada no comboio, juntamente com os companheiros do caminho, recordava o caminho percorrido e pensava: voltaria a fazer este caminho? – O tempo responderá.
Após alguns dias que me distanciam da I caminhada de albergue em albergue ainda me encontro a integrar a experiência. E começo a dizer que o caminho começa após ter terminado. E este talvez seja o mais doloroso começo! É o que vos digo… Que doloroso começo estou a começar! Porém, começo-o com a esperança de um fim manso!
Não há páginas em branco onde se possa descrever tudo o que vivi, nem palavras para explicar o que senti... O que me resta? Resta-me caminhar, «sempre de bem a melhor». Afinal, peregrinar, caminhar, ajudar, servir… é sempre possível, representa muito e é motivo de orgulho para todos nós.
Um enorme bem-haja a todos e todas pela adesão positiva nesta I caminhada de albergue em albergue que fortaleceu laços no caminho. Já nos voltaremos a encontrar!
[Verónica Parente]

3 comentários:

  1. O sentido de equilíbrio determina a nossa atitude a postura em face do sofrimento ou dificuldades.
    Apreciei o testemunho.
    Para quando a próxima caminhada ou atividade do Albergue?
    Obrigado.

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  2. boa tarde Danieel;
    obrigada pelo seu comentário.

    Fica atento ao nosso blog e à nossa página do facebook que lhe daremos notícias.

    continuação de bom caminho!

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