«A
hospitalidade revela-se um dos caminhos para a construção da identidade cristã,
na comunidade crente. Além de testemunho eloquente para os de fora, cria um
ambiente caloroso para os de dentro.»
É a partir
desta convicção que João Alberto Sousa Correia desenvolve um estudo sobre a
narrativa bíblica em que Jesus, após a ressurreição, dialoga com dois dos seus
discípulos, em viagem para Emaús, que só o reconhecem quando Ele, à mesa,
depois de longo caminho a pé, parte o pão.
O livro,
publicado pela Universidade Católica Editora, vai ser apresentado esta
sexta-feira, 12 de dezembro, em Braga, por José Tolentino Mendonça,
investigador e docente de disciplinas bíblicas.
Depois de,
no primeiro capítulo, analisar o excerto de Emaús, centrando-se no texto,
tradução, variantes, morfologia e estrutura, a obra abre a segunda parte
centrando- no narrador do episódio, prosseguindo com o estudo da «trama
narrativa», espaço e tempo do relato, e, ainda, dos personagens.
O terceiro
capítulo é inteiramente dedicado à «caracterização de Jesus», quer do seu
próprio ponto de vista, como daqueles que com Ele se cruzam, enquanto que a
quarta secção analisa o episódio de Emaús «na perspetiva da hospitalidade».
João Alberto
Correia, pároco ao serviço da arquidiocese de Braga e professor na Faculdade de
Teologia da Universidade Católica, «usa o método narrativo com significativo
desempenho, permitindo ao mesmo tempo a quem o lê a apreensão pedagógica dos
vários passos e o contacto com as ferramentas típicas da chamada mecânica
narrativa», sublinha Tolentino Mendonça no prefácio.
«O tópico
que tematicamente se destaca da sua minuciosa abordagem não podia ser de maior
impacto teológico e de mais pertinente atualidade: o lugar da hospitalidade. A
hospitalidade no mundo helenístico-romano, com o qual o Novo Testamento, e
Lucas em particular, está em intenso diálogo, tinha certamente um enorme
ascendente cultural, mas também um inamovível obstáculo», explica o vice-reitor
da Universidade Católica.
O texto do
prefácio cita o filósofo Jacques Derrida, que comenta a oposição entre
hospitalidade e hostilidade: «O estrangeiro (...) continua a pedir a
hospitalidade numa língua que, por definição, não é a sua, mas é aquela imposta
pelo dono da casa, o anfitrião, o senhor, o poder, a nação, o estado, o pai,
etc.».
«O dilema da
hospitalidade começa aqui: devemos pedir ao estrangeiro que nos compreenda, que
fale a nossa língua, em todos os sentidos do termo, em todas as extensões
possíveis, antes e a fim de poder acolhê-lo entre nós. Ora, se ele já falasse a
nossa língua, com tudo o que isso implica, se nós já partilhássemos tudo o que
se compartilha com uma língua, o estrangeiro continuaria sendo um estrangeiro e
falar-se-ia a propósito dele, em asilo e em hospitalidade», questiona Derrida.
«Retomando
este verdadeiro dilema que a hospitalidade encontrava nas sociedades antigas,
organizadas em torno ao parentesco, à etnia e ao estado, pode-se talvez
perceber melhor a originalidade do projeto cristão, que João Alberto Correia
aqui ilumina», realça Tolentino Mendonça.
O
prefaciador salienta como a obra torna claro que, «desde a sua primeira
configuração», o cristianismo apresenta-se «como experiência e projeto de
hospitalidade», evidência que o relato do caminho de Emaús, «paradigma de todo
o caminho crente», continua a explicar.
O volume vai
ser apresentado às 18h00, na Faculdade de Teologia (sala D. Eurico Dias de
Nogueira).
Rui Jorge
Martins
Publicado em
11.12.2014
http://www.snpcultura.org/a_hospitalidade_na_construcao_da_identidade_crista.html
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