Certa vez, durante longo percurso, caminhou ao lado de um peregrino um homem sério, austero, de rosto sisudo e grave. Enquanto o peregrino tornava-se mais leve a cada passo, deixando para trás o que até então havia sido, aquele homem tinha um caminhar moroso, ia revolvendo pensamentos e assim parecia que mais pesado ia ficando o que trazia consigo. Em silêncio, o peregrino abria-se para que a sua entrega e a alegria que dela brotava pudessem ajudar aquele que, por ter arraigados conceitos mentais, não permitia que a pureza do seu próprio estado espiritual emergisse. E, pouco a pouco, uma leveza foi-se introduzindo na expressão daquele homem.
Quando um ser manifesta a alegria da comunhão com energias sutis, suas condições de auxiliar os que ainda não reconheceram a necessidade de voltar-se para a luz são maiores do que se guardasse para si o que a vida interior lhe concede. É o ardor do fogo que faz elevar o brilho da chama. A alegria sadia, serena, plena de paz que emerge do toque do espírito não deve ser ocultada. A humanidade receberá maior bem por meio do exemplo da união com núcleos internos do que da rigidez imposta por ideias acerca do que deva ser o comportamento de um homem evoluído. A sobriedade é necessária e sem ela a clareza não chega à mente, mas ela e a alegria não são incompatíveis – ambas, se verdadeiras, harmonizam-se na revelação de uma vida entregue ao Supremo.
[Trigueirinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário