Aqui vos deixamos um belo testemunho do caminho da Cristina Malta, (voluntária hospitaleira no nosso albergue) após ter feito pela segunda vez o caminho até Santiago de Compostela...
«Encontrar palavras para falar d'O Caminho é difícil... Mais vale senti-LO...
A maior parte das pessoas o faz pelos mais diversos motivos: para se conhecer melhor, por fé, para testar os seus limites físicos e psicológicos, para encontrar um pouco de paz interior... A paz interior que, por vezes, é difícil de encontrar no dia a dia apenas porque não guardamos tempo para nós... Essa paz interior que existe JÁ no nosso coração e não sentimos à custa da azáfama da vida, do trabalho, da escola, dos filhos, dos sobrinhos, da crise, do governo, do trânsito e de todas aquelas coisas que insistem em nos distrair do mais importante: o ser humano!
O Caminho tem algo de místico e mágico. É como se o próprio caminho fosse uma entidade viva que nos guia, nos protege, nos proporciona tudo o que precisamos nas mais diversas formas. Seja isso água, comida, pessoas ou experiências para vivenciarmos bem cada momento, para respirar profundamente e pensar na vida... Na maneira como a vemos e como a vivemos. Tomar consciência da nossa Humanidade e pisar o chão da melhor maneira.
Cada passo é uma atitude, cada passo é um sentimento, cada passo é uma característica pessoal... Se não olhamos para o chão e vamos distraídos tropeçamos na pedra ou no pau, metemos o pé na poça de água ou num buraco, deixamos cair um acessório, fazemos um entorse ou caímos. Se apenas olhamos para o chão medimos cada centímetro de cada passo, cansamo-nos mais, controlamos demasiado... e se o acaso fizer com que a pedra solta nos faça desiquilibrar culpamo-nos porque não foi o passo perfeito...
O melhor mesmo é escolher o caminho do meio! Aquele em que vamos de olhos abertos e conscientes no chão que pisamos, mas sem controlar tudo ao pormenor. Aquele que faz com que se nos molharmos não nos importemos, se nos magoarmos digamos "ai!" apenas as vezes necessárias e se cairmos nos levantarmos com força. Força, ânimo e alegria porque o caminho não foge... e vamos ter de o continuar. Se estivermos cansados logo já vamos repousar, se estivermos magoados a dor acaba por passar, se estivermos deliciados com a paisagem isso vai durar o resto do caminho e se estivermos alegres o coração transborda de felicidade.
É assim também o quotidiano! Aceitar o que o caminho da vida nos proporciona, lutar por aquilo que realmente vale a pena, viver a dor apenas o tempo necessário, respeitar a natureza e todos os seus seres e acima de tudo respeitar-se a si próprio!!! Absorvendo os ensinamentos das várias experiências, tomando consciência disso a cada momento e daquilo que precisamos para viver melhor....
O caminho do meio é estar verdadeiramente presente em cada passo. Se tropeçarmos aceitamos as consequências, se for o passo certo chegamos ao destino... não importa a pressa, importa chegar!
O destino??? Seja no Caminho, seja na Patagónia, na Etiópia, no trabalho, numa festa ou em casa não interessa!!!!
O destino é sabermos todos os dias que cada passo que demos na vida foi consciente e foi nosso!»
[Cristina Malta]
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