terça-feira, 4 de novembro de 2014

Depressão pós-caminho



Doença ainda não estudada, mas sentida pela maioria dos peregrinos: depressão pós-caminho!
Chegar a Santiago é o culminar de uma experiência que começa muito antes de se pôr efectivamente os pés a caminho, com o entusiasmo e receios próprios da preparação, a vivência das peripécias e a alegria de ter conseguido. Cada um terá as suas motivações, algumas partilhadas e outras nos segredos dos deuses, talvez porque nem os próprios as saibam explicar.
O regresso a casa faz-se ainda com ânimo, mas a nostalgia aos poucos vai-se instalando. É preciso gerir tudo o que foi vivido e tentar encaixar algumas decisões tomadas no dia-a-dia de sempre. Nós “paramos”, podemos ter desligado telemóveis e ligação à internet, mas o mundo continuou a girar. Pior, na sua maioria, as pessoas que nos rodeiam não atribuem grande importância a essa experiência.
Se somos repetentes n’O Caminho, então ainda passa mais despercebido. “Foi diferente em quê das anteriores?”, “Em tudo!”, “Tudo? Como assim?”. Pois é, não há dois caminhos iguais: o percurso, as pessoas, a fase da vida, o entendimento do que nos rodeia… tudo é diferente. Mas esta explicação pouco importa, será uma minoria a passar esta linha.
Talvez por tudo isto, a vontade de estar n’O caminho, a caminho e com “iguais”, aumente ou, pelo menos, nunca passe.
No entanto, como escreve um amigo a relembrar-me algo dito na missa do peregrino pelo sacerdote: “on n’a fait le chemin que si l’on a changé quelquechose en rentrant chez soi et en soi” (o caminho não foi feito se não mudamos algo ao regressar a casa e em nós próprios). Esse é o verdadeiro desafio e o mais difícil de pôr em prática!

Boa recuperação, caros peregrinos ;)

[http://umcaminhoparatodos.wordpress.com/]

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