segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O que é peregrinar? (VI)

 
O sentido espiritual da Peregrinação
 
A tradição das peregrinações cristãs tem as suas raízes na concepção peregrinatória do povo de Israel: Um povo que ao encontrar a liberação da realidade que o oprimia, ao peregrinar pelo deserto, adquire consciência de povo em caminho, peregrina pela vida até a terra da promessa. Jesus viveu este ambiente e ele mesmo peregrinou como faziam no seu tempo os judeus observantes.
No Novo Testamento, até o ano 66 as comunidades cristãs podiam peregrinar ao Templo de Jerusalém. Posteriormente, as constantes persecuções e consequentes destruições da cidade, fizeram impossível a visita aos Santos Lugares. Mais tarde, com o estabelecimento da paz, no século IV, e a reconstrução dos Santos Lugares evocadores dos Actos sagrados do Antigo e do Novo Testamento, começam a ser visitados e revitalizados como centros privilegiados de peregrinação. O contacto com estes lugares provoca no peregrino a ânsia de inserir-se na mesma história de salvação.
A peregrinação supõe uma certa ruptura com o mundo e com a “pátria”, evoca a figura de Abraão, nosso pai na fé, que se pôs a caminho até a terra prometida por Deus. A atitude do patriarca convida a considerar a vida terrena como um exílio: “longe do Senhor”. O peregrino que se põem a caminho, motivado pela fé e a esperança, vai descobrindo a sua comunhão com os que o precederam e com os que na actualidade peregrinam e desta maneira se torna “concidadãos dos Santos e membros da casa de Deus”.
O Homem é, por natureza, “viator” já que não tem na terra uma cidade permanente, antes anda a procura da do futuro. A aspiração mais profunda do homem é a de alcançar a Deus. E antes de alcançar esta meta, o Homem que se encontra exilado, longe do Senhor, descobre que o caminho é duro e, frequentemente, é um andar as apalpadelas. No entanto, neste caminhar, o Senhor vai abrindo o caminho. Ele mesmo se faz: “Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida” (João 14, 6).
A reflexão cristã convida a que cada um se considere a si próprio como um “peregrino”, isto é, um estrangeiro, alguém que habita em terra estranha e que caminha para a pátria definitiva que se alcança através do Pai, através da morte. A comparação entre a vida terrena como peregrinação e a celestial foi frequente em S. Paulo, bem como nos escritores e ascetas cristãos de todos os tempos.

[Associação | Confraria de São Tiago | Espaço Jacobeus]

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